Fado Coimbra

Historia e propriedades acústicas

A guitarra Portuguesa descende da cítara da Europa ocidental. Em tempos um instumento muito popular, com numerosos modelos durante os séculos XVI, XVII e XVIII, apenas alguns modelos sobreviveram até ao século XIX: a guitarra Inglesa, em Inglaterra e no norte da França; a cítara da Turíngia, na Alemanha (Fig. 1); o bandolim Português e a guitarra Portuguesa [1].

guitarra portuguesa

Figura 1: A cítara Alemã retirada do ”Manual of Guitar Technology” e uma guitarra Portuguesa (de Coimbra)

Cada instrumento evoluiu em direcções ligeiramente diferentes, variando o tamanho, número de cordas, o cravelhame foi substituido por um sistema metálico de afinação em leque, em alguns locais foi inserida uma roseta na boca da guitarra e a decoração tornou-se mais simples. A guitarra Inglesa mudou a afinação para um acorde perfeito (Do-Mi-Sol) enquanto a guitarra Portuguesa manteve-se fiel à afinação da antiga cítara.

Em 1796, Silva Leite publica um método de guitarra chamado "Estudo da Guitarra" para utilização dos estudantes, sendo esta a primeira vez que a guitarra é mencionada em Portugal [2], apesar de a afinação sugerir que o método foi escrito para a guitarra Inglesa.

Caldeira Cabral [3] argumenta que a afinação usada hoje descende directamente da cítara. A cítara era considerada um instrumento erudito tocado em locais da alta sociedade, mas entrou em decadência no século XVIII, resistindo apenas nas mãos de algumas pessoas da classe urbana com poder económico. A meio do século era um instrumento de mendigos e escutava-se nas tabernas dos bairros antigos.

Fado

Figura 2: Fado de Lisbo visto por Malhoa no início do século XX; Fado de Coimbra

Quando o Fado (Fig. 2) se foi afirmando como uma canção nacional, assiste-se ao renascimento do instrumento em Portugal em meados do século XIX, quase extinto no resto da Europa. Em 1870 a guitarra é introduzida no meio estudantil em Coimbra, do qual faz hoje indissociavelmente parte.

O número de interpretes cresceu durante o século XX, com especial relevo para: Anthero da Veiga, Artur Paredes, Flávio Rodrigues, Carlos Paredes, Antonio Brojo e Antonio Portugal no estilo de Coimbra; ou Armando Freire, Jaime Santos, José Nunes, Raul Nery and Jorge Fontes no estilo de Lisboa.

De salientar que Artur Paredes teve, em Coimbra, um papel fundamental na tranformação da técnica do instumento no sentido do aumento do volume sonoro em deterimento da ornamentação. A ele se deve também uma colaboração com a família de construtores Grácio, que resultou no abaixamento de um tom na afinação da guitarra de Coimbra e na alteração do desenho do corpo da guitarra. A par da lágrima (Coimbra) e da voluta (Lisboa) que ornamentam a cabeça, estas alterações tornaram-se importantes elementos de contraste em relação à congénere de Lisboa.

Recentemente a guitarra vem captando o interesse de compositores eruditos em Portugal, como Eurico Carrapatoso, Sérgio Azevedo ou Fernando Lapa e no estrangeiro, como Andrew Jackson (Inglaterra), Yuasa (Japão) and Woody Man (Estados Unidos da America). Também de salientar o interesse do depertado em interpretes como Charlie Haden (EUA), o Kronos Quartet (EUA) e Pekka Nylund (Finlandia).


[1] - F. Jahnel, Manual of Guitar Technology. Frankfurt am Main: Verlag das Musikinstrument, 1981.

[2] - E. V. de Oliveira, Intrumentos Musicais Populares Portugueses. Bertrand, 3rd ed., 2001.

[3] - P. C. Cabral, Intrumentos Musicais Populares Portugueses, ch. Guitarra Portuguesa, pp. 194–199.
Bertrand, 3rd ed., 2001.

Leitura adicional:

Medições de instrumentos de cordas por João Martins (pdf em inglês)

 

Trio de Guitarras

Desde a sua formação os Verdes Anos têm dado especial relevo à guitarra Portuguesa cultivando a sua execução instrumental e a valorização dos seus compositores. O grupo Verdes Anos apresenta-se frequentemente na sua formação de TRIO, duas guitarras Portuguesas e guitarra clássica, dando a conhecer as obras de Artur Paredes, José Eliseu, Flávio Rodrigues, Antero da Veiga, José Amaral, João Bagão, Jorge Tuna, Jorge Gomes, Francisco Martins e Carlos Paredes.

Apresentaram-se nesta formação em diversos locais do país, incluindo o pavilhão de Portugal da Expo de Hannover, o Conservatório de Música de Coimbra. No estrangeiro realizaram concertos no Hotel Kempinski na cidade alemã de Hamburgo e no Barbican Theatre de Plymouth, no Reino Unido.

O Trio de Guitarras Verdes Anos, gravou 5 temas do CD de tributo a Artur Paredes "Cordas do Mondego".